Pular para o conteúdo principal

Segurança pública é flanco para a oposição contra o governo, mas não deve impactar agenda prioritária, dizem analistas

Anunciadas na última semana pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB), as ações que fazem parte do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas (Enfoc) deverão constituir um desafio de para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em uma área que tem permeado o noticiário com manchetes negativas nos últimos meses.

Com objetivo de melhorar a eficiência dos órgãos policiais e promover maior integração entre as esferas estaduais e federal no âmbito da segurança pública, o plano de enfrentamento à criminalidade está dividido em cinco eixos: integração institucional e informacional; aumento da eficiência dos órgãos policiais; portos, aeroportos, fronteiras e divisas; aumento da eficiência do sistema de Justiça Criminal; e cooperação entre os entes. O governo federal destinará R$ 900 milhões para custear parte das iniciativas a serem realizadas no âmbito do programa, até 2026.

Segundo o cientista político e CEO da Metapolítica Consultoria, Jorge R. Mizael, o anúncio do plano reflete uma tentativa de o Executivo puxar para si um debate que tem sido amplamente explorado por representantes da oposição. Ainda assim, ele não vê uma convergência de pautas prioritárias, uma vez que parte dos congressistas guardam, a respeito da segurança pública, um olhar sob a perspectiva da agenda de costumes.

“Boa parte dos parlamentares que discutem segurança pública atualmente, estão preocupados em debater sob o ponto de vista das redes sociais com temas como maioridade penal. Em resumo, existe um desalinhamento de perspectivas. Mas cabe ao Governo dar o tom e o ministro Dino fez isso ao apresentar o programa”, afirmou Mizael.

“O Congresso tem uma bancada de segurança pública, de trajetórias diversas, que parece ser composta também por profissionais de segurança pública, que tende a ter uma perspectiva, alguns vão chamar de bancada da bala, enfim, que tende a ser uma perspectiva bem punitivista em relação à perspectiva de segurança pública e vai resolver isso com mais armamento, com ações mais violentas do Estado”, disse o cientista político Jorge Chaloub, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Juiz de Fora.

Ainda assim, Chaloub crê que as discussões sobre segurança devem ocupar uma posição secundária na disputa pelo controle da agenda prioritária entre Legislativo e Executivo nos próximos meses, ficando atrás, por exemplo, de temas como o marco temporal de terras indígenas – cujo projeto de lei foi aprovado pelo Congresso nos últimos dias, ainda que a tese tenha sido considerada como inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal – e os debates sobre a gestão orçamentária do próximo ano.

Nesta terça-feira (10), o ministro Dino participa de uma audiência na Comissão de Segurança e Pública e Combate ao Crime Organizado na Câmara dos Deputados, e deverá responder questões dos parlamentares sobre cortes na verba de Segurança Pública no orçamento do próximo ano, entre outros temas.

Na coletiva em que apresentou o plano, Flávio Dino disse que a intenção do governo federal é reforçar a integração entre Estados e municípios no combate à criminalidade. Ainda que a segurança pública seja de responsabilidade dos entes federados, episódios envolvendo operações policiais com alto grau de letalidade ocorridos na Bahia e em São Paulo fizeram aumentar a pressão da sociedade para ações coordenadas pelo governo federal, em resposta ao aumento da violência.

“A questão da segurança pública foi uma das bases de crescimento da extrema-direita. Então o governo quer dar uma resposta a isso, porque ele quer dialogar com as forças de segurança, que também foram bases políticas da extrema-direita. Então o recado é isso, mas não um recado de disputa direta com a base dos legislativo. Não me parece que vai gerar articulações diretas”, complementou Chaloub.

O governo alega que o programa apresentado não se trata de uma resposta a casos recentes de violência urbana em grandes cidades, e algumas ações que já estão em andamento foram incorporadas ao plano, como no caso de operações integradas e capacitação de servidores públicos que trabalham diretamente no enfrentamento às organizações criminosas.

Além da portaria ministerial que trata do Programa Nacional de Enfrentamento às Organizações Criminosas, Dino assinou dois termos de autorização e uma segunda portaria que se somam às ações de enfrentamento à violência.

Um dos termos assinados pelo ministro viabiliza o repasse de R$ 20 milhões do Fundo Nacional de Segurança Pública para o governo da Bahia, que deverá usar a quantia para fortalecer as instituições de segurança pública e defesa. O outro dispositivo trata do envio de efetivos da Força Nacional de Segurança Pública para o Rio de Janeiro.

Nesta segunda-feira (9), os deputados que integram a comissão têm uma visita técnica prevista ao Centro de Operações de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública da Bahia. Administrado pelo Partido dos Trabalhadores (PT) há duas décadas, o Estado tem vivido uma escalada nos episódios de violência urbana, tanto na capital Salvador como em municípios do interior. Em falas públicas recentes, Flávio Dino tem classificado a situação da segurança pública na Bahia como “ um dos maiores desafios da segurança pública no Brasil”, e afirma que o governo federal segue em diálogo com a esfera estadual para tentar estabilizar a situação no estado.

“Ataques criminosos ocorridos na Bahia e Rio de Janeiro arranham, de certa forma, a imagem dos governos estaduais e federal. Não vejo que o episódio possa colocar em risco a governabilidade do atual governo, dentro do Congresso. Por outro lado, é válido destacar, como um potencial candidato a uma vaga no STF, o ministro Flávio Dino sempre corre o risco de nesses encontros [nas Comissões] escorregar em uma declaração e colocar tudo a perder”, ponderou o coordenador do times de análise político da Warren Rena, Erich Decat.

Newsletter
Infomorning
Receba no seu e-mail logo pela manhã as notícias que vão mexer com os mercados, com os seus investimentos e o seu bolso durante o dia

The post Segurança pública é flanco para a oposição contra o governo, mas não deve impactar agenda prioritária, dizem analistas appeared first on InfoMoney.



source https://www.infomoney.com.br/politica/seguranca-publica-e-flanco-para-a-oposicao-contra-o-governo-mas-nao-deve-impactar-agenda-prioritaria-dizem-analistas/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De Pequim a Lisboa: quais são as 10 melhores cidades para combinar trabalho e lazer 

O trabalho híbrido e remoto, que ganhou força durante a pandemia, tornou-se um arranjo permanente para muitas empresas, permitindo um equilíbrio maior entre trabalho e lazer. Nesse sentido, o International Workplace Group (IWG) elaborou um ranking com as dez melhores cidades do mundo para trabalho e lazer (ou férias). Em 2024, a primeira posição da lista é ocupada pela capital húngara, Budapeste, seguida por Barcelona (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil). Uma mudança quase completa em relação aos locais escolhidos no ano anterior, que foram Barcelona, Dubai (EAU) e Praga (República Tcheca). Leia também: Morar fora em 2024: veja países baratos, como investir e mais para fazer real durar no exterior O resultado deste ano, divulgado pelo portal CNBC na última quarta-feira (21), corresponde a uma pesquisa com 1.000 profissionais que trabalham de forma híbrida ou remota pelo mundo. Segundo a IWG, o levantamento considera a pontuação de dez categorias: acomodação, alimentação, clima, c...

Nunes, Datena e Boulos têm empate triplo em SP, mas prefeito leva melhor no 2º turno

A 68 dias das eleições municipais , o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) , o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) estão tecnicamente empatados na disputa pela prefeitura de São Paulo, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta terça-feira (30). Baixe uma planilha gratuita para calcular seus investimentos em renda fixa e fuja dos ativos que rendem menos O levantamento, realizado entre os dias 25 e 28 de julho, mostra que, em cenário estimulado (ou seja, quando são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados) de primeiro turno, Nunes (MDB), que tenta a reeleição, mantém a liderança numérica na corrida, com 20% das intenções de voto − 2 pontos percentuais a menos do que na pesquisa anterior, divulgada em junho. Logo atrás, Datena e Boulos , com 19% cada. Em um mês, o primeiro variou positivamente 2 p.p., ao passo que o segundo escorregou na mesma proporção. Como a margem máxima de erro é de 3,1 pontos percentuai...

Quanto rendem R$ 100 mil no CDB? Veja simulação para diferentes prazos e tipos

A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi elevada para 10,75% ao ano em setembro e, diante do cenário macroeconômico local, a expectativa do mercado é que o Banco Central faça novos ajustes para cima ainda em 2024, o que pode beneficiar os CDBs, muito procurados por pessoas físicas. O InfoMoney simulou quanto R$ 100 mil investidos nesses títulos de renda fixa renderiam em um, dois e três anos. Foram considerados tanto os CDBs atrelados à inflação como os pós (indexados ao CDI) e os prefixados. Quanto rendem R$ 100 mil em CDB de inflação Os CDBs de inflação devolvem ao investidor o montante aplicado corrigido pela média da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, mais uma taxa prefixada. No caso desse tipo de aplicação, R$ 100 mil alocados nesta segunda-feira (14) gerariam um rendimento líquido de  R$ 8.762,47  a  R$ 28.483,34  entre um e três anos, já descontado o imposto de renda (IR), que varia entre 22,5% e 15%, con...