Pular para o conteúdo principal

Com mercado livre de energia, termelétricas podem aumentar conta do ambiente regulado

Linhas de transmissão próximas a usina termelétrica (REUTERS/Pavel Mikheyev)

A abertura total do mercado livre de energia a todos os consumidores, incluindo os residenciais, não pode resultar em custos adicionais para os clientes que optarem por seguir no mercado regulado, defende o presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira. 

O executivo ressalta que essa tem sido uma preocupação do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, em falas públicas sobre o tema. 

O Ministério de Minas e Energia (MME) está discutindo as regras e o cronograma da abertura do mercado e a expectativa é que a proposta seja anunciada ainda este ano. 

No mercado livre, o consumidor pode escolher o fornecedor e negociar diretamente com um gerador ou comercializadora a compra de energia elétrica. O cliente deixa, assim, de comprar a energia negociada pela distribuidora local. 

Como sua empresa pode aproveitar o mercado livre de energia

A partir de janeiro de 2024, todos os consumidores de média e alta tensão passaram a ter essa escolha. 

Mais de 50 mil consumidores livres

A abertura levou o Brasil a atingir a marca de 51.389 consumidores no mercado livre em julho, crescimento de 25% em relação ao final do ano passado, segundo dados da Associação Brasileira dos Consumidores de Energia (Abraceel).

Para aqueles que estão na baixa tensão, como as residências, ainda é necessário aguardar o cronograma a ser divulgado pelo ministério. 

“As nossas preocupações são com relação às medidas que devem ser tomadas para que não exista nenhum impacto para os consumidores no mercado regulado”, diz o presidente da Abradee. 

Descontos na conta de luz de até 35% para empresas e 20% para consumidores

Lei não está sendo cumprida, diz associação

Ele lembra que a própria  lei que criou a abertura de mercado (lei 9074/1995) tem um artigo que prevê que a migração do consumidor do ambiente regulado para o ambiente livre não pode gerar custos adicionais. 

“O que nós temos visto até hoje é o não cumprimento do que está na legislação”, afirma. 

Uma questão que precisa ser endereçada é o custo das usinas termelétricas, que são despachadas quando não há condições climáticas favoráveis para a geração eólica e solar.  

Leia mais:

“Quem suporta o custo mais alto dessas térmicas é o mercado regulado”, diz Madureira

“Então, no momento em que alguém deixa o mercado regulado e vai para o mercado livre, essa energia fica mais cara para aqueles que permanecem no mercado regulado, porque são menos consumidores que estão pagando por esse lastro de capacidade”, acrescenta. 

Incentivo para consumidores livres

O presidente da Abradee lembra ainda que os consumidores que migram para o mercado livre com a aquisição de energia a partir de fontes renováveis têm um incentivo, que é um desconto de metade do custo de uso das tarifas de transmissão e distribuição.

Por meio da medida provisória 1212, editada em abril deste ano, o governo estendeu esse incentivo por mais 36 meses. A Aneel recebeu pedidos de 1.983 usinas para enquadramento no benefício, num total de 85 gigawatts (GW). 

Madureira destaca que esse benefício hoje já é o maior peso para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), que engloba subsídios destinados a políticas públicas pagos pela fatura dos consumidores. 

“A gente tem que ter a preocupação de criar mecanismos de divisão desses custos”, defende. 

Sobrecontratação preocupa distribuidoras de energia

Outra preocupação é com os contratos de geração deixados com as distribuidoras. 

As concessionárias estão sofrendo com a sobrecontratação em meio à redução no consumo no ambiente regulado, fruto não apenas da migração dos consumidores para o mercado livre, mas também do maior número de unidades de geração distribuída, modelo no qual o cliente gera a própria energia que consome. 

Isso é um dos principais fatores que leva a um maior custo aos clientes que escolhem permanecer no mercado regulado. 

Madureira afirma que os mecanismos existentes hoje para lidar com a sobrecontratação são insuficientes. As regras atuais preveem a redistribuição dos volumes excedentes entre as concessionárias sub e sobre contratadas, mas o problema hoje é estrutural, com praticamente todas as distribuidoras tendo volumes excedentes de energia. 

“Essa sobrecontratação tem que ser de responsabilidade de todos, e não só do mercado regulado. A gente entende que deve ser criado um mecanismo, um encargo, provavelmente, para poder sanar esse problema”, diz Madureira. 

Presidente executivo da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira. (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

Segundo ele, em média o custo de contratação de energia nesses contratos é de R$ 250 por megawatt-hora (MWh), mas quando há “sobra” de energia, esses volumes são liquidados pelo preço de liquidação das diferenças (PLD), que tem permanecido nos últimos anos em patamares baixos, por volta de R$ 70 por MWh. 

Em relação às queixas de que as distribuidoras estariam dificultando a migração de clientes do ambiente regulado para o livre, Madureira afirma que são casos pontuais, que devem ser fiscalizados e punidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). 

“Se tiver algum ato que alguma distribuidora esteja fazendo de forma errada, inadequada, ele tem que ser fiscalizado e punido pela agência”, afirma. 

A Abraceel recebeu 208 casos concretos de problemas na migração entre as associadas nos 12 meses entre junho de 2023 e junho de 2024. A maior parte das denúncias recebidas tem relação com o descumprimento de prazos pelas distribuidoras, além de problemas de comunicação com as concessionárias e da exigência descabida de documentação e processos.

“O cuidado que nós temos que ter é atender da melhor maneira ao consumidor nessa abertura que está sendo feita. Se tem algum problema, tem que ser evidenciado e tratado devidamente”, diz Madureira. 

The post Com mercado livre de energia, termelétricas podem aumentar conta do ambiente regulado appeared first on InfoMoney.



source https://www.infomoney.com.br/business/com-mercado-livre-de-energia-termeletricas-podem-aumentar-conta-do-ambiente-regulado/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De Pequim a Lisboa: quais são as 10 melhores cidades para combinar trabalho e lazer 

O trabalho híbrido e remoto, que ganhou força durante a pandemia, tornou-se um arranjo permanente para muitas empresas, permitindo um equilíbrio maior entre trabalho e lazer. Nesse sentido, o International Workplace Group (IWG) elaborou um ranking com as dez melhores cidades do mundo para trabalho e lazer (ou férias). Em 2024, a primeira posição da lista é ocupada pela capital húngara, Budapeste, seguida por Barcelona (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil). Uma mudança quase completa em relação aos locais escolhidos no ano anterior, que foram Barcelona, Dubai (EAU) e Praga (República Tcheca). Leia também: Morar fora em 2024: veja países baratos, como investir e mais para fazer real durar no exterior O resultado deste ano, divulgado pelo portal CNBC na última quarta-feira (21), corresponde a uma pesquisa com 1.000 profissionais que trabalham de forma híbrida ou remota pelo mundo. Segundo a IWG, o levantamento considera a pontuação de dez categorias: acomodação, alimentação, clima, c...

Nunes, Datena e Boulos têm empate triplo em SP, mas prefeito leva melhor no 2º turno

A 68 dias das eleições municipais , o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) , o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) estão tecnicamente empatados na disputa pela prefeitura de São Paulo, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta terça-feira (30). Baixe uma planilha gratuita para calcular seus investimentos em renda fixa e fuja dos ativos que rendem menos O levantamento, realizado entre os dias 25 e 28 de julho, mostra que, em cenário estimulado (ou seja, quando são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados) de primeiro turno, Nunes (MDB), que tenta a reeleição, mantém a liderança numérica na corrida, com 20% das intenções de voto − 2 pontos percentuais a menos do que na pesquisa anterior, divulgada em junho. Logo atrás, Datena e Boulos , com 19% cada. Em um mês, o primeiro variou positivamente 2 p.p., ao passo que o segundo escorregou na mesma proporção. Como a margem máxima de erro é de 3,1 pontos percentuai...

Quanto rendem R$ 100 mil no CDB? Veja simulação para diferentes prazos e tipos

A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi elevada para 10,75% ao ano em setembro e, diante do cenário macroeconômico local, a expectativa do mercado é que o Banco Central faça novos ajustes para cima ainda em 2024, o que pode beneficiar os CDBs, muito procurados por pessoas físicas. O InfoMoney simulou quanto R$ 100 mil investidos nesses títulos de renda fixa renderiam em um, dois e três anos. Foram considerados tanto os CDBs atrelados à inflação como os pós (indexados ao CDI) e os prefixados. Quanto rendem R$ 100 mil em CDB de inflação Os CDBs de inflação devolvem ao investidor o montante aplicado corrigido pela média da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, mais uma taxa prefixada. No caso desse tipo de aplicação, R$ 100 mil alocados nesta segunda-feira (14) gerariam um rendimento líquido de  R$ 8.762,47  a  R$ 28.483,34  entre um e três anos, já descontado o imposto de renda (IR), que varia entre 22,5% e 15%, con...