Da expectativa por um movimento de queda dos juros no início de 2024, o Brasil deve fechar o ano com um novo ciclo de alta das taxas. Nessa quarta-feira (6), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou a taxa básica de juros, a Selic, pela segunda vez consecutiva, em 0,50 ponto percentual, para 11,25%.
Mas qual o impacto dessa decisão sobre a Selic para os fundos de investimento?
Os gestores consultados pelo InfoMoney afirmam que não muda muita coisa, já que a magnitude dos ajustes recentes é baixa em comparação com o salto de 2% para 13% de dois anos atrás. Porém, ativos que já eram preferência dos investidores devem ganhar ainda mais espaço na carteira, enquanto ativos que estavam desacreditados, devem ser ainda mais preteridos.
Isso significa que ações e multimercados seguem cercados de desconfiança com o cenário macroeconômico desafiador. Já a renda fixa pagará ainda mais nos títulos pós-fixados e se consolida como principal destino do dinheiro dos brasileiros, embora tenha desafios no crédito privado.
Fundos de renda fixa
Ângelo Belitardo, gestor da Hike Capital, afirma que os investidores devem evitar os fundos com maior exposição à inflação. Para ele, a volatilidade será maior nesses papeis e, com o novo ciclo de alta dos juros, a indexação ao CDI é mais vantajosa e menos arriscada. Já Camilla Dolle, head de renda fixa da XP, não descarta a opção de IPCA para quem está disposto a se expor a um pouco mais de risco.
“A alta da Selic é positiva para os títulos pós-fixados, mas não têm um componente de risco que ofereça um prêmio maior”, argumenta. O foco em um retorno baseado em CDI deve ser para uma estratégia de caixa, que exige liquidez, na opinião da head.
Isso para os títulos públicos. Entretanto, os fundos que mais têm captado e estão no radar dos investidores são os de crédito privado. “A classe mais atrativa para investimento hoje são os Fundos de Debêntures Incentivadas. Como a taxa de juros está em patamares elevados, esses fundos passam a oferecer um retorno bastante atrativo, e acima da Selic”, diz Belitardo.
Para o gestor da Hike Capital, três estratégias de fundos são capazes de entregar retornos entre 14 e 17%, sem oscilação, ao longo dos próximos 12 meses: debêntures incentivadas, bonds e debêntures, e FIDCs.
“Existem estratégias em fundos de investimento em renda fixa cuja oscilação aproxima-se de zero e, ainda assim, com taxas de retorno entre 130% e 160% do CDI, com prazo de resgate entre 30, 60 e 90 dias. Como são fundos capazes de controlar a volatilidade, o retorno anual acumulado passa a ser extremamente vantajoso”, diz.
Fundos de ações
O cenário para os fundos de ações é mais difícil. No relatório pré-Copom da XP, 52% dos gestores de fundos macro afirmaram estar neutros na Bolsa brasileira. O argumento é que os fundamentos das empresas são bons, mas o cenário político-econômico local e a atratividade da renda fixa não ajudam a “materializar o potencial da Bolsa”, diz Mônica Araújo, estrategista de renda variável da InvestSmart.
Com isso, os fundos de ações sofrem do mesmo mal. Ainda mais quando a perspectiva é de um novo aumento dos juros ainda neste ano, para 11,75%, o que pode resultar em uma mudança nos fundamentos bons da empresa devido ao aumento do custo de capital, com peso nas dívidas, na aquisição de matéria-prima e equipamento, além da revisão dos valuations.
A recomendação geral é buscar fundos com estratégias mais defensivas, posicionados em setores como energia elétrica, saneamento, bancos, telecomunicações e seguradoras, que oferecem mais previsibilidade nas receitas e se beneficiam de juros maiores, além de serem bons pagadores de dividendos, o que aumenta o retorno total.
Fundos multimercados
Se é para tomar risco em renda variável, a indicação de Alexandre Costa, analista de fundos da Empiricus Research é fazer isso por meio de fundos multimercados. A classe foi a que mais passou por resgates nos últimos 12 meses e sofreu reveses em suas performances. Costa afirma, porém, que os gestores aprenderam a lidar com o cenário e agora adotaram estratégias mais “arrojadas”.
“Nesse ambiente de juros mais altos existe risco nos fundos de ações, nos fundos de crédito, e multimercados não deixam de ser uma escolha viável. Os gestores têm mais flexibilidade de posição. Podem operar tomados em juros, comprados em inflação implícita, comprar e operar juro nominal, juro real, comprado e vendido em Bolsa. Olhar outras classes como commodities e câmbio. É uma opção interessante”, diz Costa.
O analista afirma que o investidor não deve desconsiderar essa classe de fundo, principalmente se o foco for o longo prazo. “Uma carteira balanceada para o longo prazo tem diversificação em renda fixa, multimercados, ações, dólar. Então pouco importa essas variações de curto prazo e o timing de mercado. A questão é o retorno lá na frente.”
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