Pular para o conteúdo principal

Serra Gaúcha levará 5 anos para recuperar produção de uvas para vinho após enchentes

Os microclimas da Serra Gaúcha contribuem com a rica variedade de uvas produzidas na região. No topo, onde as temperaturas são mais amenas e o clima é mais seco, as safras são principalmente voltadas à produção de vinhos finos. As variedades cultivadas em altitudes mais baixas, com mais umidade, abastecem, sobretudo, a indústria de sucos e vinhos de mesa. Mas o regime de chuvas, cada vez mais irregular nos últimos anos, tem impactado as videiras de diferentes formas. E as enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul em maio deste ano também deixaram seu rastro de destruição na região, apesar da altitude.

À época da catástrofe, os parreirais estavam em fase de dormência. Toda a uva já havia sido colhida e a brotação começaria só dali há alguns meses, quando chegasse a primavera. Mas os mais de mil milímetros de chuva em poucos dias custaram mais do que safras. Deslizamentos levaram terrenos inteiros serra abaixo. A família de Luciano de Mari, em Bento Gonçalves, viu quatro hectares de terra – 40% de sua área produtiva – desaparecer do dia para a noite. 

Em Bento Gonçalves, quatro hectares de parreirais da propriedade de uma mesma família foram devastados por deslizamentos (Crédito: Eduardo Benini)

“A produção de uvas aqui na propriedade começou 50 anos atrás, com meu falecido avô”, conta Luciano. Os Di Mari produziam 280 mil toneladas de uva por safra. São cooperados da Vinícola Aurora e a história deles, infelizmente, não foi uma exceção dentro do grupo. Ao todo, 86 produtores ligados à cooperativa foram atingidos – uns mais, outros menos – pelas chuvas de maio. Um total de 12 hectares de terra foi completamente perdido, pois o solo deslizou levando todos os nutrientes da área.  

“Para a gente conseguir ter uma produção plena dessas áreas de uva novamente, vamos demorar pelo menos mais uns cinco anos”, afirma Maurício Bonafé, gerente agrícola da Vinícola Aurora. 

A família De Mari: reconstrução do zero (Crédito: Eduardo Benini)

Leia mais:

Um nó na cabeça dos produtores

Dentro do universo da cooperativa, o impacto das enchentes foi limitado. O grupo tem 1.100 produtores cooperados em 11 municípios da Serra Gaúcha. Mas o clima tem dado um nó na cabeça dos produtores e reverbera nos números há algum tempo. A cooperativa costuma trabalhar com 75 milhões quilos de uva por safra. Na passada, porém, foram colhidos 50 milhões – e as cheias ainda não tinham acontecido.

Mas a recente quebra de safra também foi resultado de um excesso de chuva, em setembro do ano passado, período de brotamento das videiras. A umidade nesse período do ciclo é porta aberta para fungos, que atingiram os parreirais.

Pouco antes, para se ter uma ideia da instabilidade do clima, a produção de uva na Serra Gaúcha vinha sendo afetada por uma escassez hídrica – a ponto de algumas propriedades estarem implementando sistemas de irrigação pela primeira vez.

Sistema de irrigação passa entre videiras de uma propriedade em Bento Gonçalves (Crédito: Eduardo Benini)

“São ajustes que as mudanças climáticas estão impondo”, afirma Rodrigo Arpini, diretor de marketing e vendas da Aurora. “Estamos entendendo como isso funciona em outras partes do Brasil para trazer tecnologia para cá.”   

Expansão além da Serra Gaúcha

Os executivos da Vinícola Aurora explicam que a cooperativa busca fazer novas alterações em seu estatuto social, que podem permitir a ampliação do grupo para além da Serra Gaúcha. “Com certeza o Brasil tem um vasto campo. Além da Serra, temos a região da Campanha, na fronteira. Petrolina também é algo em que a Aurora vai colocar o olho”,  explica Arpini. 

Atualmente, a Aurora já compra alguns produtos prontos dessas regiões, como base para sucos e espumantes. Segundo o presidente do conselho da Aurora, Renê Tonelo, a reforma estatutária da cooperativa só deve ser feita em abril do ano que vem, quando a próxima safra for colhida (sem expectativas de quebra desta vez). 

“Não descartamos a possibilidade de permitir que o nosso associado produza em outras regiões fora da Serra Gaúcha”, afirma. A ideia, a princípio, não é trazer novos cooperados. “A ideia é que os daqui possam ampliar [a produção] em outros lugares e não o contrário”. 

Rodrigo Arpini, diretor de vendas, e Renê Tonelo, presidente do conselho de administração da Aurora: mudanças à vista no estatuto (Crédito: Eduardo Benini)

*A reportagem viajou para Bento Gonçalves a convite da Cooperativa Vinícola Aurora

The post Serra Gaúcha levará 5 anos para recuperar produção de uvas para vinho após enchentes appeared first on InfoMoney.



source https://www.infomoney.com.br/business/serra-gaucha-levara-5-anos-para-recuperar-producao-de-uvas-para-vinho-apos-enchentes/

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

De Pequim a Lisboa: quais são as 10 melhores cidades para combinar trabalho e lazer 

O trabalho híbrido e remoto, que ganhou força durante a pandemia, tornou-se um arranjo permanente para muitas empresas, permitindo um equilíbrio maior entre trabalho e lazer. Nesse sentido, o International Workplace Group (IWG) elaborou um ranking com as dez melhores cidades do mundo para trabalho e lazer (ou férias). Em 2024, a primeira posição da lista é ocupada pela capital húngara, Budapeste, seguida por Barcelona (Espanha) e Rio de Janeiro (Brasil). Uma mudança quase completa em relação aos locais escolhidos no ano anterior, que foram Barcelona, Dubai (EAU) e Praga (República Tcheca). Leia também: Morar fora em 2024: veja países baratos, como investir e mais para fazer real durar no exterior O resultado deste ano, divulgado pelo portal CNBC na última quarta-feira (21), corresponde a uma pesquisa com 1.000 profissionais que trabalham de forma híbrida ou remota pelo mundo. Segundo a IWG, o levantamento considera a pontuação de dez categorias: acomodação, alimentação, clima, c...

Quanto rendem R$ 100 mil no CDB? Veja simulação para diferentes prazos e tipos

A taxa básica de juros do Brasil, a Selic, foi elevada para 10,75% ao ano em setembro e, diante do cenário macroeconômico local, a expectativa do mercado é que o Banco Central faça novos ajustes para cima ainda em 2024, o que pode beneficiar os CDBs, muito procurados por pessoas físicas. O InfoMoney simulou quanto R$ 100 mil investidos nesses títulos de renda fixa renderiam em um, dois e três anos. Foram considerados tanto os CDBs atrelados à inflação como os pós (indexados ao CDI) e os prefixados. Quanto rendem R$ 100 mil em CDB de inflação Os CDBs de inflação devolvem ao investidor o montante aplicado corrigido pela média da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, mais uma taxa prefixada. No caso desse tipo de aplicação, R$ 100 mil alocados nesta segunda-feira (14) gerariam um rendimento líquido de  R$ 8.762,47  a  R$ 28.483,34  entre um e três anos, já descontado o imposto de renda (IR), que varia entre 22,5% e 15%, con...

Nunes, Datena e Boulos têm empate triplo em SP, mas prefeito leva melhor no 2º turno

A 68 dias das eleições municipais , o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) , o apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) estão tecnicamente empatados na disputa pela prefeitura de São Paulo, segundo pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta terça-feira (30). Baixe uma planilha gratuita para calcular seus investimentos em renda fixa e fuja dos ativos que rendem menos O levantamento, realizado entre os dias 25 e 28 de julho, mostra que, em cenário estimulado (ou seja, quando são apresentados nomes de candidatos aos entrevistados) de primeiro turno, Nunes (MDB), que tenta a reeleição, mantém a liderança numérica na corrida, com 20% das intenções de voto − 2 pontos percentuais a menos do que na pesquisa anterior, divulgada em junho. Logo atrás, Datena e Boulos , com 19% cada. Em um mês, o primeiro variou positivamente 2 p.p., ao passo que o segundo escorregou na mesma proporção. Como a margem máxima de erro é de 3,1 pontos percentuai...